Friday, December 16, 2005

WIELAND SPECK


7th Festival de Cinema Gay e Lesbico de Lisboa - 2003

Going back in thoughts to the days when the berlin film festival started to programme films by gays, or lesbians, or films with gay, lesbian or transgendered storylines, we have to switch to the year 1980. by this time, every internationally appearing g&l film was a unique enterprise. from that date on, with the creation of the berlinale's panorama section, these – our – films had found a home in the official world. not that this program did not find enough enemies on the way – the same people that have kept gay and lesbian filmwork out of the international circuit for a long time - but year after year the presence of these films and their makers gained more and more respect up to the point where the film award TEDDY could be established.

Panorama as part of the berlinale's official program was of course not dedicated to g&l films alone – indepentend art house cinema was its programme and it is still today. but the TEDDY could jump in to focus the attention in a spectacular way: today 4000 spectators are visiting the award ceremony, and more than ten intl tv systems are transmitting the images throughout the world – just one night before the grand prizes of the festival are given, the golden and silver bears.

The build up of this presence, formerly unheard of, would not have been possible without the grassroots work of g&l festivals worldwide - festivals like this one in lisbon! hundreds of g&l cineasts would bring in their workpower, their knowledge, their enthusiasm – usually unpaid or dramatically underpaid – and created the grounds for this part of the film culture formerly neglected and supressed. on the other hand the filmmakers themselves felt encouraged by the display of their work – without an audience, film remains just celluloid – and this is exactly what happened often enough in the past to g&l films.

Needless to say that even today, g&l films are the ones with the smallest budget, for production and promotion alike. at the same time liberalization in many western countries has created new generations of gays and lesbian, who want to be part of the entity, not to remain a subculture or minority. so, they would prefer to have matrix type films with gay story lines and not low budget work only. well, this gap will never really close I assume, and the wonderful work of g&l festivals will always have to deal with this contradiction, battling against all odds – servicing something much more important on the way: creativity driven by authentic artists, undamaged by means of commercial machinery, uncensored and real, calling on politics, fantasy - and fun!

Have a wonderful festival 2003 and enjoy supporting your culture!

Berlin, July 29, 03
Wieland Speck
Filmmaker
Director Panorama Internationale Filmfestspiele Berlin

7º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa - 2003

Recuando na memória aos tempos em que o Festival de Cinema de Berlim (Berlinale) começou a incluir na sua programação filmes dirigidos por gays & lésbicas, ou filmes cuja narrativa incluísse temas ligados aos gays, lésbicas ou transgéneros, desembocamos no ano de 1980. Por esta altura, cada mostra internacional de um filme gay & lésbico tratava-se de um empreendimento de carácter único. A partir desta data, com a criação da Secção Panorama do Berlinale, estes – os nossos – filmes encontraram um lugar próprio no mundo oficial. Não que esta programação não tenha encontrado inimigos no seu percurso – os mesmos que sempre fizeram questão em manter afastado o cinema gay & lésbico dos circuitos internacionais -, mas a verdade é que, ano após ano, a presença destes filmes e dos seus criadores conquistaram um crescente respeito, ao ponto de serem criados os prémios TEDDY.

A Secção Panorama, como parte integrante da programação oficial da Berlinale, não foi, obviamente, criada apenas para filmes gay & lésbicos – o cinema independente foi, e continua a ser, a sua prioridade em termos de programação. Mas o TEDDY está lá, pronto a saltar a qualquer momento para chamar a atenção para si: hoje, 4.000 espectadores assistem à cerimónia de entrega dos prémios, e mais de dez canais internacionais de televisão asseguram a transmissão das imagens por todo o mundo – é assim, na noite anterior à da entrega dos Ursos de ouro e de prata.

A consolidação desta presença, durante anos silenciada, não teria sido possível sem o trabalho árduo das organizações de festivais gay & lésbicos por todo o mundo – festivais como o de Lisboa! Centenas de cineastas, gays & lésbicas, contribuíram com a sua capacidade de trabalho, os seus conhecimentos, o seu entusiasmo – num trabalho voluntário ou escandalosamente mal pago -, para a construção dos alicerces que permitiram o desenvolvimento desta vertente da cultura cinematográfica, anteriormente ignorada. Por outro lado, os próprios realizadores, sentiram-se encorajados pela nova visibilidade oferecida ao seu trabalho – sem um público, um filme não passa de celulóide, e foi isso mesmo o que, no passado, aconteceu a muitos filmes gay e lésbicos.

Escusado será reafirmar que, ainda hoje, os filmes gay e lésbicos são aqueles com os orçamentos mais baixos, quer em termos de produção, quer em termos de divulgação. Mas a liberalização de muitos países ocidentais fez com que as novas gerações de gays & lésbicas quisessem pertencer a um todo comum, e não ficar subjugadas a uma minoria ou subcultura. Assim, novos cineastas optaram por filmes mais comerciais, embora com subnarrativas gay, não se limitando aos imperativos dos baixos orçamentos. Presumo que este hiato nunca se irá desvanecer, e o fabuloso empenho dos festivais gay & lésbicos terá sempre de lidar com esta contradição, lutando contra todas as adversidades – com a consciência de que, pelo caminho, estão a dar voz a algo verdadeiramente mais relevante: o trabalho criativo de artistas comprometidos, não esmagados pela engrenagem comercial, materializado em filmes que não cedem à censura, apelando a factores políticos, à fantasia – e à pura diversão!

Desejo-vos uma maravilhosa edição de 2003 do Festival e divirtam-se a apoiar a vossa cultura!

Berlim, 29 de Julho de 2003
Wieland Speck
Realizador
Director do PanoramaFestival Internacional de Cinema de Berlim