Friday, December 16, 2005

TEXTOS E MENSAGENS - TEXTS AND MESSAGES

(In)visibilidades

Como se sabe, ser lésbica, gay, bissexual ou transgénero (LGBT) significa integrar uma minoria sujeita à discriminação e à exclusão social. Do insulto à agressão física, das dificuldades no acesso ao emprego até aos conflitos familiares, assumir a orientação sexual (ou reclamar uma identidade de género) minoritária implica custos substanciais. A alternativa, porém, é ainda mais negativa: a vida no “armário”. O “armário” é a metáfora para a auto-repressão a que os LGBT se sujeitam para evitarem as consequências do preconceito. A vida “no armário” é uma vida feita de silêncio e mentira – bem como do inevitável medo de que a verdade seja descoberta –, que incorpora assim a própria homofobia na tentativa permanente de assegurar a invisibilidade.O preconceito anti-LGBT, baseado na ignorância e na preguiça intelectual, alimenta-se dessa invisibilidade.
Daí que a luta de movimentos sociais no plano dos direitos pretenda também ir garantindo condições para que se possa “sair do armário”. Em Portugal, porém, a realidade LGBT é ainda maioritariamente invisível, pelo medo por parte de quem não se mostra, e pela vontade de não ver por parte de quem vê.
Persiste, pois, a necessidade absoluta de assegurar a visibilidade, que faz com que a representação de realidades LGBT num suporte audiovisual assuma um papel fundamental. E sendo a televisão portuguesa um exemplo constante de homofobia e heterossexismo, é chocante que não se promova e aplauda e aclame um Festival de Cinema Gay e Lésbico, uma iniciativa que pretende educar para uma verdadeira cidadania, baseada não na tolerância mas no gosto pela diversidade.
Porque essa educação é um bem público, e porque o próprio preconceito garante a impossibilidade da sua provisão privada, cabe ao Estado a obrigação de garantir a sua existência. É essa, aliás, a política actual de todos os poderes públicos democráticos e cosmopolitas. Com um caminho tão longo por percorrer no campo dos direitos, o corte quase total do apoio ao Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa é a melhor prova de que os poderes públicos de Lisboa ignoram os valores da diversidade e da liberdade, privilegiando pelo contrário o populismo. Ao querer promover o regresso dos LGBT à invisibilidade do “armário”, são esses poderes que revelam assim os seus “esqueletos no armário”: por trás da retórica da tolerância e da modernidade, escondia-se afinal uma velha homofobia – agora bem visível.

(IN)VISIBILITIES

Everyone knows that being lesbian, gay, bisexual or transgendered (LGBT) means being part of a minority subject to discrimination and social exclusion. The costs of disclosing a minority sexual orientation (or claiming an alternative gender identity) range from verbal or physical abuse to family conflict to difficulties in getting and keeping a job. The alternative, however, is far more negative: a life in the closet. The closet is the metaphor for the self-repression that LGBT people endure in order to avoid the consequences of prejudice. A life in the closet is made of silence and deceit – as well as the inevitable fear that the truth will be disclosed – and it incorporates homophobia in the permanent attempt to ensure invisibility.
The prejudice against LGBT people is based on ignorance and intellectual laziness – and it feeds on invisibility. This is why social movements struggle to ensure conditions that allow and encourage “coming out of the closet”. In Portugal, however, the LGBT reality is mainly invisible: on one hand, many LGBT people remain closeted out of fear; on the other hand, most people are unwilling to see those few who are actually willing to be seen.
The absolute need to ensure visibility therefore remains, and representations in audiovisual media become crucial. Given that Portuguese television is a daily example of homophobia and heterosexism, it is shocking that a Gay and Lesbian Film Festival is not promoted, applauded, and acclaimed – this is, after all, an event that educates towards true citizenship, based not on tolerance but on an actual appreciation of diversity.
Because this type of education is a public good – and prejudice itself prevents its private provision – it is the State that has the moral obligation to provide it. That is indeed the current policy of every democratic and cosmopolitan public power. With such a long way to go in terms of civil rights, an almost complete cut in the funding of the Lisbon Gay and Lesbian Film Festival is the ultimate proof that the public powers of Lisbon may know the meaning of populism but are oblivious to the concepts of democracy, diversity and freedom. By pushing LGBT people further back into the invisibility of the closet, these powers end up exposing their own “skeletons in the closet”: behind the rhetoric of tolerance and modernity, lies the same old homophobia – that is now clearly visible.

Paulo Pamplona Côrte-Real
Miguel Vale de Almeida

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