LOCAL
Artista: Pedro Penha
É vulgar, triste e bisonho, cheirando a naftalina e a óleo de cedro. Foi em tempos forrado, numa outra altura arrumado. Nada de comprometedor, apenas um acumular de lembranças, memórias pouco interessantes mas possuindo um passado de glórias como dado adquirido. Não se quer dizer com isto que todas as glórias sejam suas, não são.Uma porta está encravada, há anos que não abre, se é que alguma vez abriu. O que lá estará dentro terá sido posto a custo, às apalpadelas, só Deus sabe o que custou. Não abre mesmo. É uma porta que é uma parede, um muro.Há barulho lá dentro, o som brota pelas fendas sem que nada se veja.
Esta porta esconde compartimentos secretos, desejosos de serem explorados e furiosamente vasculhados.
Experimente.
Espreite.
Pelo óculo que escolher, terá acesso a uma pequena parte escondida, basta pôr-se na posição adequada. Mas não se esqueça: mesmo que visse tudo ao mesmo tempo, nunca teria visto tudo.
Artist: Pedro Penha
It’s ordinary, sad and dull, smelling of mothballs and cedar oil. Its walls were once lined, and it once was tidy. Nothing compromising on the inside, just stocked up memorabilia, uninteresting memories, although it takes for granted a glorious past. Not intending that all these glories are his by right, they’re not.
One of the doors is stuck, it hasn’t been opened for years, if ever it was really opened. Whatever is in the inside was forced its way in, finding its path in the dark, God knows the effort. It just doesn’t open. A door that’s really a wall.
You can hear noises from the inside, the sounds drift through the cracks, unnoticed.
This door hides secret compartments, willing to be explored and thoroughly exposed. We dare you.
Take a peek.
Through any given looking-glass, you’ll have access to a small hidden part of it, just adjust yourself to the proper posture. But don’t forget: even if you saw the whole of it, you’d never really seen it all.
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