Tuesday, September 27, 2005

EXHIBITIONS: CELSO JUNIOR E ARLENE SABINO - 1986


ARTES VISUAIS
Adalice Araújo

De 4 a 27 de julho (1986), na Sala Bandeirante de Cultura, a oportunidade de se ver os trabalhos recentes de Celso Juníor, que participa de uma exposição conjunta com Arlene Sabino. Eric Newton ao se referir aos desenhos que Beardsley fez para “Salomé” de Oscar Wilde, diz que eles têm a beleza enferma de uma orquídea. Isto me faz lembrar o culto ao decadente que transparece nos atuais desenhos de Celso Junior, esse rnestre de efeitos. Ele é, sem duvida, uma das mais curiosas personagens da geração 80, que, por exemplo, adora aparecer nos vernissages com smoking ou fraque com o detalhe de uma jóia estravagante, quando a maioria de seus colegas vão de jeans, ou alguns apelam para o visual punk; que na visita que fez a Paris preferiu ficar o tempo todo percorrendo antiquários em vez de visitar o Museu do Louvre; ou para quem a vida é um jogo perigoso — a coisa doentia do faz de conta — a ponto de ter transformado sua casa em um grande atelier que é ao, mesmo tempo, uma oficina de teatro. Aliás o desenho e a pintura são para ele verdadeiros rituais que exigem uma grande dose de fetichismo. Recentemente formado em pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, foi o verdadeiro mentor espiritual do projeto “A Grande Pitonisa”, trabalho de formatura de sua turma, que pode ser considerado a melhor performance de 85 no Paraná, cujas origens remontam às festas que constantemente promovia em sua casa. Como em um jogo teatral, cada participante apresentou-se caracterizado como no retrato.
No todo, a marca registrada de Celso Junior que, se diga de passagem, além de artista plástico é estilista; tendo sido responsável, por exemplo, pelos figurinos da ópera “La Traviata” de Verdi, levada pelo Madrigal Pró Arte no Grande Auditório do Teatro Guaíra, em 84. Se a boutique com máscaras de carnaval que possuia a mãe de James Ensor explica, em parte, o grotesco das suas mascaradas; a loja de acessórios de roupas que o avô de Celso Junior possuia desde a sua primeira infância e depois passou para seu pai, explica em parte seu fascínio por detalhes como jóias, tecidos, luvas, chapéus, rendas, plumas, e outros apetrechos; estatuetas, reminiscências de manequins; o trejeito feminino da “pose de prova” visível mesmo nas personagens masculinas dos seus desenhos. Um detalhe importante para se fazer a leitura da obra de Celso Junior é que ele sempre desenha ou pinta ao som de ópera. Os adjetivos para classificar seus desenhos ilustrativos e tragicômicos vão de magnífico a apelativo. De fato, ele curte e cultiva os clichês “art nouveau” a fantasia decadente do simbolismo decorativo. Tudo isto somado a retratos psicológicos onde satiriza, por vezes, o modelo família, o orgulho da raça e da tradição. Ele tem toda uma série de trabalhos com bizarros “quadros de família”, que dão a sensação de fotos antigas, tendo inclusive jocosas e irônicas dedicatórias. Aí ele se coloca por inteiro na posição de quem conta uma história e a teatraliza. Constantemente, embora se coloque como personagem,assume consigo mesmo e com os outros o olho clínico e crítico do psiquiatra que desnuda as personalidades doentius de seus clientes. Embora tenha um excelente domínio de desenho da figura humana — como bem revelam os seus estudos de nus — constantemente serve-se de um aparente descuido na sua construção para concentrar sua atenção nos retratos e nos detalhes; revelando acuidade psicológica e uma elegância simulada, Por trás do garbo de atitudes, a visível decadência revela não só o cômico velado como uma forte repreensão moral. Em outra série ele presta a sua homenagem a Klimt, o mestre mais original da “art nouveau” da Secessão Vienense, deleitando-se na irrealidade da beleza afetada, na fusão figura e fundo, na orgia cromática e decorativa dos arabescos orientais que envolvem inclusive as figuras com auréolas bizantinas. No momento está trabalhando com o fotógrafo Ronald Luz no Projeto “Die Familie”, que promete ser uma das maiores surpresas, a nível nacional, em 86. Ê porém perigoso falar na postura de Celso Junior como algo definitivo. Como é um mestre de improvisos e surpresas tudo dele pode-se esperar.

Artistas da Geração 80 (2)