Talking about Death – Reference Exhibition: POSTRIMERÍAS ou OS ÚLTIMOS MOMENTOS
POSTRIMERÍAS em espanhol quer dizer os últimos momentos e este era o nome de uma anunciada exposição em Madrid na primavera de 1996.Iludido com este título, claro está que me abalei para Madrid curiosíssimo para ver-la.
O tema era, vou escrever em espanhol: Alegorías de la Muerte en el Arte Español Contemporâneo.
Não sou pessoa de criar muitas expectativas com as coisas, mas ninguém escapa a ser a excepção e assim foi, muita expectativa e uma grande desilusão:Todos os grandes nomes da Pintura Espanhola Contemporânea lá estavam representados, Picasso, Dalí, Tàpies, Saura...TUDO!
Quando da realização de meu primeiro documentário, DESCANSE EM PAZ, quis abordar o tema da constante chantagem emocional dos mortos aos infelizes seres ainda vivos neste planeta, chantagem esta exercida através da arquitectura, estatuária e todo o imaginário e imaginária presentes em nossos cemitérios. Fiz de conta em pensar que na Arte esta visão ou esta interpretação da Morte pudesse ser diferente. Qual o que: redundante e incriminatória.
Posso afirmar que 100% das obras expostas, todas, até as abstractas, tinham a presença perturbadora de uma caveira, uma foice ou algo que nos recordava a passagem e o medo deste desconhecido que está para além da vida.
Desnecessário dizer que a possibilidade de encontrar uma sugestão ao prazer, ao gozo ou mesmo a um lado mais irónico e lúdico da Morte (se é que existe) foi nula. A atmosfera reinante era depressiva e sensação constante era a mesma resultante daquelas frases de mal gosto que encontramos em muitos Cemitérios Latinos “És o que fomos e serás o que somos”
- Prá Morrer!!!
Se desta verdade ninguém escapa, ou seja, da certeza que um dia vamos morrer, ao menos gostaria de colorir um pouco este momento, tentar vislumbrá-lo com outras cores e formas para além deste aperto na alma, deste jugo Judaico Cristão que vigora através deste terrorismo exercido pelo medo e pelas culpas, sim, por que no fundo tudo se resume à questão das culpabilidades e da maneira sábia e eficaz como somos manipulados pelos nossos governantes desde sempre.
Caguei para a morte! Enquanto ela não chegar vou brincar com ela e interpretá-la de maneira prazeirosa e faceira, já que segundo minha querida amiga Maria José Campos, sou um viciado em Prazer.
Isto me lembra uma fábula, creio que de La Fontaine que rezava que homem desdenhou do medo da Morte durante toda a sua vida, e então moribundo e ao vê-la ao vivo e a cores no seu derradeiro momento, acovardou-se e implorou por sua vida...Provavelmente passará o mesmo comigo, posso mesmo garantir, mas e daí?
O que é facto é que a ideia da Morte sempre esteve associada ao pensamento romântico e está profundamente enraizada na cultura ocidental, e sendo mais específico, poderia mesmo afirmar que é uma idiossincrasia da latinidade. A Morte aparece assim, intimamente ligada à nossa Cultura Clássica, Anti-Clássica, Barroca, Irracional e Intempestiva. Daí resulta que a Iconografia da Morte Latina nos chegue através de uma visão conformada ou formatada dentro deste ideal romântico. Mesmo que se tente uma busca de uma linguagem ou uma abordagem que misture tradição e modernidade dificilmente se pode escapar dos estereótipos.
É inquestionável que a reflexão sobre a Morte foi uma das pedras angulares da concepção barroca da existência, mais, que o próprio Homem é uma criação do Século XVIII, tudo muito recente, mas custa-me ver e sentir na pela esta latinidade obsessiva e impregnada de estereótipos.
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