QUEER LISBOA 11
MUITO AINDA POR FAZER
Pode parecer contraditório que eu que em 2003 travei uma inglória batalha com a então presidência e vereação da cultura da CML, a propósito da "sugestão" para que retirássemos as palavras GAY e LÉSBICO do título do nosso Festival (que passaria a ser conhecido como o Festival das Diversidades), venha agora, em 2007, motivar a mudança do nome do Festival.
Mas uma coisa é sermos postos em causa na nossa identidade, situação aliás ainda não muito bem apreendida pelas comunidades lgbt portuguesas, nem quanto à sua gravidade, nem quanto às suas consequências, nomeadamente quanto à forma como encorajam que os políticos continuem a olhar para si e para os seus direitos, liberdades e garantias. Outra, e é este o caso, é uma mudança, ou evolução de nome e identidade para uma que, em lugar de ser redutora, amplia a abrangência do conceito e dá, igualmente, ainda maior relevância à nossa existência como comunidade, aproveitando uma unidade internacionalmente reconhecida.
QUEER tem sido um termo adoptado, utilizado e reconhecido cada vez mais pela comunidade internacional. Se acrescentarmos a palavra LISBOA, cidade-capital que se pretende aberta ao mundo e a todas e todos, não só integraremos a rede de eventos culturais QUEER, como promoveremos o nome da nossa cidade (na sua grafia nativa) em todo o Mundo.
O Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa sempre apostou em dar visibilidade e dignidade à cultura gay, lésbica, bissexual, transsexual e heterossexual através da sua mostra de cinema, sem fronteiras, intercontinental e sem preconceitos. Tratou-se de um privilégio quiçá por vezes aproveitado por poucos e definitivamente feito por poucos. Desde 1997 este Festival oferece a Lisboa uma selecção única e original, repescada por outros certames, cujos nomes menos "incómodos" lhes permitem tornar suas as "novidades" e as obras da Sétima Arte que este Festival lançou entre nós (veja-se os casos de François Ozon, Sébastien Lifshitz, Monika Treut, Rose Troche entre outros).
Quando instituições que desde sempre apoiaram este festival lhe viram as costas com desculpas técnicas demonstram a forma como encaram a importância da comunidade lgbt em Lisboa e no país, bem como o estado da Cultura no nosso país. Não sendo "só" um caso de homofobia é, ainda, o resultado de uma visão muito limitada da forma como se gerem eventos culturais que contribuem para o desenvolvimento do país e para a melhoria da sua imagem internacional.
Numa sociedade como a portuguesa, que segundo os padrões da Europa Ocidental, é retrógrada e preconceituosa, especialmente, em "novas velhas" áreas como a homofobia e transfobia, ou a misoginia e o machismo, reveste-se de singular relevância a forma como as instituições e as grandes empresas actuam e dão o exemplo. Quando nenhum órgão de soberania se manifesta em relação ao que aconteceu em Viseu, ou quanto à forma como os tribunais lidaram com o caso Gisberta, a cultura assume um papel fundamental de acordar de consciências e de criação de espaços onde imperem atmosferas menos contaminadas pelo preconceito e onde se respire com mais liberdade e é, nas palavras de T. S. Elliot o que "faz com que faça valer a pena viver!"
Infelizmente as nossas próprias comunidades lgbt (à semelhança das nossas elites, políticos, empresários, gestores, etc., etc.), não são, ainda, muito diferentes da sociedade de onde emanam. Perante os ataques, as omissões e o apagamento, os lgbt nacionais manifestam um alheamento preocupante e pouco saudável. Permito-me um desafio final: Acordem e desfrutem deste evento QUEER que vos é oferecido. Nunca foi tão necessário reivindicarmos o nosso orgulho em sermos quem somos e lutar, lutar muito por direitos que já deveríamos ter. Tolerantes somos nós!
Celso Junior
MUCH LEFT TO DO
It may seem contradictory that after fighting, in 2003, an inglorious battle with the then-President and Culture Councillor of the Lisbon Municipality, who had “suggested” that the words GAY and LESBIAN be withdrawn from the name of the Festival (who would be thereafter be known as the Festival of Diversities), I should be back, in 2007, to justify the name change of the same Festival.
However, it is one thing for our identity to be questioned – a situation that the Portuguese lgbt communities have not yet fully understood, either in its seriousness or its ramifications – namely in how it encourages politicians to perceive them and their rights, freedoms, and warranties. It is quite different, as is the case here, to undergo a change – or evolution – in name and identity, in order to become not more limited, but more encompassing, and give an even greater relevance to our existence as a community, under the umbrella of an internationally-recognised unity.
QUEER is a term increasingly adopted, used, and recognised by the international community. If we add the name LISBOA, a capital city that aspires to openness to the world, and to all, male and female, not only will we become part of a network of QUEER events, but we will also promote the name of our city (in its local spelling) across the World.
The Lisbon Gay and Lesbian Film Festival has always invested in offering visibility and dignity to gay, lesbian, bisexual, transsexual, and heterosexual culture through the films it has screened, disdaining borders and prejudices, and intercontinental in scope. One might consider it an indulgence enjoyed by few, and certainly born of the work of fewer still. Since 1997, this Festival has offered Lisbon a unique and original selection of productions, all too often cherry picked by other events, whose less “inconvenient” names allow them to claim as their own the new and original works of the Seventh Art that actually debuted in Portugal thanks to this Festival (e.g. the cases of François Ozon, Sébastien Lifshitz, Monika Treut, and Rose Troche, among others).
When institutions that have supported this festival since the beginning resort to technicalities as excuses to turn their backs on it, they demonstrate the consideration and significance in which they hold the lgbt community in Lisbon and around the country, and signal the current state of Culture in our country. It is not “merely” a case of homophobia; it is also the result of a very limited vision of how to manage cultural events that contribute to the development of the country, and to the improvement of its international image.
In a society like the Portuguese, that, according to the patterns of Western Europe, is backwards and prejudiced - especially in “new-old” areas such as homophobia and transphobia, as well misogyny and machismo - the way in which public institutions and large private enterprises act and the example they provide is especially significant. When no political or judicial power speaks up in reaction to the events of Viseu, or to the manner in which the Gisberta case was handled by the courts, culture must take on a fundamental role: to awaken consciences, and create arenas less contaminated by prejudice, where one can breathe in more freely; becoming, in the words of T. S. Eliot, "that which makes life worth living!"
Regrettably, our own lgbt communities (not unlike our elites, politicians, businessmen, managers, etc.) are not yet very different from the society whence they spring. In the face of attacks, omissions, and cancellation, Portuguese lgbts show a worrying and unhealthy aloofness.
I allow myself a final challenge: Wake up, and enjoy this QUEER event that is offered to you. It has never been so necessary as today to claim our pride in being who we are and fighting, fighting hard for rights that should already be ours. We are the tolerant ones!
Celso Junior
Pode parecer contraditório que eu que em 2003 travei uma inglória batalha com a então presidência e vereação da cultura da CML, a propósito da "sugestão" para que retirássemos as palavras GAY e LÉSBICO do título do nosso Festival (que passaria a ser conhecido como o Festival das Diversidades), venha agora, em 2007, motivar a mudança do nome do Festival.
Mas uma coisa é sermos postos em causa na nossa identidade, situação aliás ainda não muito bem apreendida pelas comunidades lgbt portuguesas, nem quanto à sua gravidade, nem quanto às suas consequências, nomeadamente quanto à forma como encorajam que os políticos continuem a olhar para si e para os seus direitos, liberdades e garantias. Outra, e é este o caso, é uma mudança, ou evolução de nome e identidade para uma que, em lugar de ser redutora, amplia a abrangência do conceito e dá, igualmente, ainda maior relevância à nossa existência como comunidade, aproveitando uma unidade internacionalmente reconhecida.
QUEER tem sido um termo adoptado, utilizado e reconhecido cada vez mais pela comunidade internacional. Se acrescentarmos a palavra LISBOA, cidade-capital que se pretende aberta ao mundo e a todas e todos, não só integraremos a rede de eventos culturais QUEER, como promoveremos o nome da nossa cidade (na sua grafia nativa) em todo o Mundo.
O Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa sempre apostou em dar visibilidade e dignidade à cultura gay, lésbica, bissexual, transsexual e heterossexual através da sua mostra de cinema, sem fronteiras, intercontinental e sem preconceitos. Tratou-se de um privilégio quiçá por vezes aproveitado por poucos e definitivamente feito por poucos. Desde 1997 este Festival oferece a Lisboa uma selecção única e original, repescada por outros certames, cujos nomes menos "incómodos" lhes permitem tornar suas as "novidades" e as obras da Sétima Arte que este Festival lançou entre nós (veja-se os casos de François Ozon, Sébastien Lifshitz, Monika Treut, Rose Troche entre outros).
Quando instituições que desde sempre apoiaram este festival lhe viram as costas com desculpas técnicas demonstram a forma como encaram a importância da comunidade lgbt em Lisboa e no país, bem como o estado da Cultura no nosso país. Não sendo "só" um caso de homofobia é, ainda, o resultado de uma visão muito limitada da forma como se gerem eventos culturais que contribuem para o desenvolvimento do país e para a melhoria da sua imagem internacional.
Numa sociedade como a portuguesa, que segundo os padrões da Europa Ocidental, é retrógrada e preconceituosa, especialmente, em "novas velhas" áreas como a homofobia e transfobia, ou a misoginia e o machismo, reveste-se de singular relevância a forma como as instituições e as grandes empresas actuam e dão o exemplo. Quando nenhum órgão de soberania se manifesta em relação ao que aconteceu em Viseu, ou quanto à forma como os tribunais lidaram com o caso Gisberta, a cultura assume um papel fundamental de acordar de consciências e de criação de espaços onde imperem atmosferas menos contaminadas pelo preconceito e onde se respire com mais liberdade e é, nas palavras de T. S. Elliot o que "faz com que faça valer a pena viver!"
Infelizmente as nossas próprias comunidades lgbt (à semelhança das nossas elites, políticos, empresários, gestores, etc., etc.), não são, ainda, muito diferentes da sociedade de onde emanam. Perante os ataques, as omissões e o apagamento, os lgbt nacionais manifestam um alheamento preocupante e pouco saudável. Permito-me um desafio final: Acordem e desfrutem deste evento QUEER que vos é oferecido. Nunca foi tão necessário reivindicarmos o nosso orgulho em sermos quem somos e lutar, lutar muito por direitos que já deveríamos ter. Tolerantes somos nós!
Celso Junior
MUCH LEFT TO DO
It may seem contradictory that after fighting, in 2003, an inglorious battle with the then-President and Culture Councillor of the Lisbon Municipality, who had “suggested” that the words GAY and LESBIAN be withdrawn from the name of the Festival (who would be thereafter be known as the Festival of Diversities), I should be back, in 2007, to justify the name change of the same Festival.
However, it is one thing for our identity to be questioned – a situation that the Portuguese lgbt communities have not yet fully understood, either in its seriousness or its ramifications – namely in how it encourages politicians to perceive them and their rights, freedoms, and warranties. It is quite different, as is the case here, to undergo a change – or evolution – in name and identity, in order to become not more limited, but more encompassing, and give an even greater relevance to our existence as a community, under the umbrella of an internationally-recognised unity.
QUEER is a term increasingly adopted, used, and recognised by the international community. If we add the name LISBOA, a capital city that aspires to openness to the world, and to all, male and female, not only will we become part of a network of QUEER events, but we will also promote the name of our city (in its local spelling) across the World.
The Lisbon Gay and Lesbian Film Festival has always invested in offering visibility and dignity to gay, lesbian, bisexual, transsexual, and heterosexual culture through the films it has screened, disdaining borders and prejudices, and intercontinental in scope. One might consider it an indulgence enjoyed by few, and certainly born of the work of fewer still. Since 1997, this Festival has offered Lisbon a unique and original selection of productions, all too often cherry picked by other events, whose less “inconvenient” names allow them to claim as their own the new and original works of the Seventh Art that actually debuted in Portugal thanks to this Festival (e.g. the cases of François Ozon, Sébastien Lifshitz, Monika Treut, and Rose Troche, among others).
When institutions that have supported this festival since the beginning resort to technicalities as excuses to turn their backs on it, they demonstrate the consideration and significance in which they hold the lgbt community in Lisbon and around the country, and signal the current state of Culture in our country. It is not “merely” a case of homophobia; it is also the result of a very limited vision of how to manage cultural events that contribute to the development of the country, and to the improvement of its international image.
In a society like the Portuguese, that, according to the patterns of Western Europe, is backwards and prejudiced - especially in “new-old” areas such as homophobia and transphobia, as well misogyny and machismo - the way in which public institutions and large private enterprises act and the example they provide is especially significant. When no political or judicial power speaks up in reaction to the events of Viseu, or to the manner in which the Gisberta case was handled by the courts, culture must take on a fundamental role: to awaken consciences, and create arenas less contaminated by prejudice, where one can breathe in more freely; becoming, in the words of T. S. Eliot, "that which makes life worth living!"
Regrettably, our own lgbt communities (not unlike our elites, politicians, businessmen, managers, etc.) are not yet very different from the society whence they spring. In the face of attacks, omissions, and cancellation, Portuguese lgbts show a worrying and unhealthy aloofness.
I allow myself a final challenge: Wake up, and enjoy this QUEER event that is offered to you. It has never been so necessary as today to claim our pride in being who we are and fighting, fighting hard for rights that should already be ours. We are the tolerant ones!
Celso Junior
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