Tuesday, January 16, 2007

...tu leste o “Testamento de Jean Barois” ?


... ‘e um tipo que aos 50 anos, nos finais do século XIX, numa família burguesa alta, ‘e médico, casado com uma mulher super católica, super piegas, resolve fazer um testamento em que diz:

- eu, aos 50 anos, no máximo de minha lucidez, escrevo que Deus não existe, que a Igreja Católica faz isto, faz aquilo
... e deixa-o selado
... à hora da morte, o pânico da mulher é tão grande que ela consegue que um padre vá lá
... mas o que vale é o que ele escreveu aos 50 anos
... e ele destrói o testamento
... no último momento dizendo

... - agora, outra história:uma história da minha vida, foi a minha primeira aula de cultura clássica, tinha 17 anos, na faculdade
... era um grande professor o Padre Manuel Antunes e eu tinha 17 anos e uma burrice, uma coisa total, uma ignorância enorme. Um anfiteatro cheio e ele começa a falar de Heidegger, primeira coisa, eu lembro que decorei o nome e escrevi: HEIDEGGER
... e de repente o homem entra em absolutamente século XX e vai começar durante duas horas a recuar em cultura. De Heidegger para trás.
... Não me lembro de nada da aula e ele sabia que ninguém ia se lembrar de nada da aula e como boas-vindas aos alunos disse:
... - Bem! Então para acabar isto, vou contar uma história muito, muito simples.
... E pela maneira como disse que ele queria que nós aprendêssemos a história, era uma coisa que ele queria marcar... e disse:-então vou falar da Caixa de Pandora
... contou a história rapidamente e disse:
... -e saíram da caixa, a fome, a lepra, as desgraças, o horror
... e ela tentou fechar
...e quando fechou ficou lá só uma coisa:e eu lembro-me do anfiteatro ficar assim
... e ele disse:- ficou a HELPIS
...e eu zero (por que não tinha tido grego)
... -a esperança, e o que caracteriza a humanidade
... Boa tarde minhas senhoras
... Adeus

... agora vamos ligar ao “Testamento de Jean Barois”:
... Ele rasgou o que no seu ponto mais alto de lucidez tinha escrito, por desespero e também pelo último resto de esperança que se rasgasse o testamento havia Deus e ele iria de continuar

... eu não acredito que eu tenha este discurso, mas daqui a vinte anos não esteja desesperada de pena pela Teresinha que vai morrer, eu já estou desesperada de pena pelas rugas, pelos dentes que caem, pelos pintelhos brancos, por estas merdas todas
... não sei se me irei vender
... não faço a menor ideia
... porque a antropologia, o logus do ser humano não é estático.
Portanto, eu não faço a menor ideia do pânico perante o desaparecimento da única realidade que eu conheço, que sou eu própria.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home