Special Dossier: DEATH - Imaginário
Para uma melhor compreensão de meu trabalho, como o de qualquer criativo, é necessária uma viagem ao tempo, ao tempo de nossa infância e juventude para buscar o colectivo de imagens, livros que foram lidos, filmes que foram vistos, músicas, acontecimentos, pessoas, enfim, tudo o que uma maneira especial nos tenha marcado e construído o que somos hoje como artista e mesmo como pessoa.
Sim, é verdade que na minha infância, falo da minha primeira infância, já os contos infantis me chocavam pela sua crueldade ou pelas suas morais ao mesmo tempo que me encantavam e me transportavam para um mundo mágico que como Alice (1) era um mundo só meu.
“AH no meu mundo!!!”
... meu gatinho,
... ia ter um lindo castelinho,
... e andar todo bem vestidinho,
... neste meu mundo, só meu...
Perraut(2), Esopo(3), La Fontaine(4), Irmãos Grimm (5), Monteiro Lobato(6) e mesmo Camões(7). Sem deixar de citar todo o cancioneiro e bestiário brasileiro que é recheado de lendas, personagens(8) e histórias fantásticas(9). Os livros, as enciclopédias (10), as inúmeras revistas (11), os gibis(12) completavam esta fonte de curiosidade e esta gula que sempre tive em relação às imagens. Sou um homem que acredita que uma imagem vale por mil palavras.
Também muito cedo tive contacto com a MORTE, não com a Morte real mas com a que chamo Morte de Plástico(13). Sempre vivida e idealizada a partir de um ponto de vista romântico e mesmo piegas que jamais esteve conotada com a perda ou com a dor real, mas não menos angustiante pois elevava a uma potência exagerada e simbólica esta mesma perda. Como se eu perdesse algo que na realidade nunca o tivesse tido no plano real. Mais tarde na pré-adolescência esta sensação de perda foi substituída pela fonte de prazer que anima toda minha criação artística (14).
Assim, melhor que me estender nesta narrativa, e fazendo-me valer do poder das imagens, convido-os (as) a visitar este Dossier Especial.
(1) Alice no País das Maravilhas de Lewis Caroll, só li a história original depois dos 20 anos, até então a versão conhecida era a de Walt Disney
(2) O Barba Azul contada pela minha avó Virgínia
(3) O Carvalho e o Junco (livro)
(4) O Homem que não temia a Morte
(5) Com 5 anos e eu já actuava como o Lobo Mau no Chapeuzinho Vermelho na minha primeira peça infantil, depois fui o Joãozinho na Casinha de Chocolate e confesso que não tinha muita graça, prefiro o papel do lobo
(6) O Sítio do Pica-Pau Amarelo
(7) Inês de Castro a Rainha Morta contada pela minha mãe
(8) Mãe D’água, Saci Pererê, Curupira, Negrinho do Pastoreio, Cuca, Mula sem Cabeça, Iara entre tantos outros
(9) As histórias de assombração contadas pelo meu avô Manuel
(10) Chocavam-me e fascinavam-me os quadros de Ensor e dos Pre-rafaelitas e flipava com as ilustrações da Divina Comedia de Gustave Doré
(11) Manchete e O Cruzeiro
(12) Era como chamávamos a banda desenhada no Brasil
(13) Chamo assim a morte assistida na Televisão e no Cinema
(14) Em BANDOLERO de Andrew V. McLaglen a perda se transforma em objecto de prazer
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