Wednesday, December 20, 2006

September 2006: 10th Lisbon Gay and Lesbian Film Festival – Gonçalo Diniz

Parece-me quase uma eternidade quando penso na excitação e no nervosismo que sentimos ao esperar o, então, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. João Soares para fazer as honras de abertura, da primeira edição do festival em Setembro de 1997.
Com um orçamento mínimo e com muito trabalho, este evento foi pioneiro, dando início a uma era em que a comunidade homossexual, bissexual e transgender começou a lutar abertamente (e de forma concertada) por um reconhecimento das dificuldades sócio-culturais com que se debatia.
Hoje, Portugal é um país socialmente muito diferente daquele que viu a estreia do festival, no pequeno espaço da Videoteca de Lisboa, no Largo do Calvário em 1997.
Existe, indubitavelmente, uma maior consciência do respeito ao direito à diferença e uma maior visibilidade das comunidades gay, lésbica e transgender.
No entanto, embora tenhamos percorrido um longo caminho, os eventos dos passados meses, em particular, o assassínio da Gisberta na cidade do Porto e o sentimento anti-homossexual em Viseu que levou à formação das milícias populares, servem-nos de lembrança (se é que alguma vez precisávamos...) de que o nosso país tem ainda um caminho duríssimo a palmilhar.
O sonho de iniciar um evento cultural que celebrasse uma diversidade social – que até então era invisível –, teve a sua génese imediatamente após o primeiro Ciclo de Cinema Positivo promovido pela Associação Abraço na Culturgest em 1994.
Levou dois anos de discussões, reuniões e debates até conseguirmos reunir (então sob a égide da Associação ILGA-Portugal) as condições necessárias para dar início ao trabalho de produção do festival.
Inserido num projecto mais alargado de associativismo político, o festival para além dum instrumento de divulgação cultural, tinha uma componente nitidamente de âmbito política.
Apesar das mudanças e da explosão de organizações no panorama do associativismo gay, lésbico e transgender português, passados estes 10 anos, regozijo ter acompanhado a evolução do festival mantendo sempre – apesar das adversidades – uma forte vertente política, com uma mensagem bem clara.
Dada, então, a actual conjuntura parece-me perfeitamente lógico que o tema, este ano, seja o da luta contra a homofobia. Tal como há dez anos, julgo que o festival é uma ferramenta insubstituível no processo de erosão dos preconceitos e da ignorância que fazem com que tantas pessoas vivam em medo e oprimidas de serem e sentirem aquilo que lhes é natural.
É assim, com muita humildade, que agradeço a todos aqueles que trabalharam neste projecto ao longo destes anos (com particular destaque ao Celso Júnior), e com igual orgulho que congratulo o Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, neste seu 10˚ aniversário.

It seems an eternity when I think back to the excitement and nervousness we felt while waiting on the, then, Mayor of Lisbon, Dr. João Soares, to make the opening speech of the Festival’s first edition, on September 1997.
With a minimum budget and a lot of work in hands, this was a pioneer event, breaking ground to an era in which the homosexual, bisexual and transgender community started fighting openly (and in a concerted way) for a recognition of the socio-cultural difficulties it was living.
Nowadays Portugal is socially a very different country from the one witnessing the birth of the Festival, at the narrow venue of the Videoteca de Lisboa, at the Largo do Calvário, in 1997. There is, undeniably, a bigger conscience on the respect to the right to be different and a broader visibility of gay, lesbian and transgender communities.
Nevertheless, although a long road has been travelled, last month’s events, namely Gisberta’s murder in the city of Oporto and the anti-homosexual sentiments in Viseu which originated popular militias, are a reminder (as if we ever needed one…) that our country has yet a tough path ahead of it.
The dream of creating a cultural event that celebrated a social diversity – till then unseen -, had it genesis immediately after the first Positive Cinema Film Cycle promoted by the Associação Abraço, at the Culturgest in 1994.
It took two years of discussions, meetings and debates in order to gather (then, organized by ILGA-Portugal Association) the necessary conditions to partake the Festival’s production work.
In the context of a broader political associative project, the Festival, beyond a mere cultural visibility instrument, had a clear political component.
Despite the changes and the emergence of several organizations in the Portuguese gay, lesbian, and transgender associative panorama, after 10 years, I’m happy to witness the evolution of the festival, truthful always – despite the adversities - to a strong political conscience, with a very clear message.
Being so, and given the present day agendas, it seems to me perfectly logical that this year’s theme is the one of the fight against homophobia. As it was ten years ago, I feel that the Festival is an irreplaceable tool in the process of eroding the preconceptions and the ignorance responsible for so many people living in fear and oppressed from being and feeling what is natural to them.
This is how, humbly, I thank all those who have worked in this project throughout the years (with particular relevance to Celso Junior), and with pride that I congratulate the Lisbon Gay and Lesbian Film Festival on its 10th Anniversary.

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