Wednesday, February 01, 2006

EXHIBITIONS: SOLDIERS, DEATH AND ORGASM Expectation - London 1994



SOLDADOS, MORTE e ORGASMO: CATARSE E TRANSFIGURAçÃO

Todo o homem é o resultado de uma herança, e essa torna-se IMAGINÁRIO.

Quando falamos de ARTE, esse imaginário pode tornar muitas formas. O artista constrói-se à medida que, a obra nasce. Segue, então, os seus próprios caminhos, mesmo que com isso seja criticado, vilipendiado ou até mesmo destruído no seu espírito.
Um artista é, quase sempre, um maldito, pois altera a ordem das coisas; é maldito, também, por transportar dentro do si a própria maldição da sua existência atormentada. A sua vida significa sacrifício, demolição, destruição lenta, mesmo que nos faça perceber que ela é o contrário do tudo isso.Um artista caminha de mão dada com o Demónio. Encontra nessa associação o seu maior prazer, pois não sabe quais os limites dessa viagem. É uma viagem interminável, mesmo que, à partida, ela conduza à sua morte inevitável, O artista ama e mata o próprio amor de matar. Mata-se a si mesmo todos os dias. Em cada quadro, em cada imagem, é uma parte do seu corpo que retalha e expõe, à, mercê do carniceiro ávido que é todo aquele que o contempla. É necessário sentir os pedaços intensos dessa obra, misturando-nos com eles, apaixonadamente, como se fosse o último dia da nossa vida.
Na pintura de Celso Júnior a presença do imaginário é constante e faz-nos apreender o outro lado do universo, que é aquele onde só as sombras existem: o espectro do mal, a dissolução pelo orgasmo, a profunda analogia do orgasmo com a morte, rito final só comparável perfeição absoluta.
A presença dos soldados é o mais claro sinal da existência desse imaginário pessoal, figuras fundamentais para a compreensão das motivações profundas da estética do pintor.
O soldado mata, mata com toda a violência de que é capaz, mas, para lá de matar, está pronto a receber a morte. o próprio retrato da predisposição. A sua maior missão não é matar, mas morrer, pois é na morte que está todo o segredo do Universo.
E é dessa associação entre o poder do orgasmo e a morte que nos falam estes quadros que, poderíamos dize-lo, Celso Júnior chegou a pintar com o seu próprio sangue.
Note-se, porém, que se trata de um reino de sombras onde só a cor poderá Imperar, pois o as cores que dominam as sombras e jamais o contrário. O próprio Demónio é muito colorido, comanda as cores do mundo, e é por isso mesmo que ele é o Senhor das Trevas. E é na presença da cor que se encontra essa herança cultural de que o artista jamais poderá divorciar-se. Celso vem do país onde é possível vislumbrar todas as cores do mundo.
É natural que esta vivacidade se encontre na nua obra plástica onde predomina a secura ávida do fogo, em todas as suas tonalidades demoníacas. O verde, o azul, o vermelho, o amarelo, o laranja e muitas outras, constituem a totalidade de um universo onde a estética do corpo se alia ao prazer da dor. Esta é a grande mensagem desta exposição, experiência irrepetível para quem vê.
Caminhar de mão dada com o Demónio é a primeira e a última condição do artista.

José Fernando Tavares (escritor e crítico literário)

Exhibitions: SOLDIERS, DEATH and ORGASM
Individual - Expectation - London 1994 – UK

NISO
Oil on Canvas – 199162 x 77 cm
Exhibited in London – Expectation 1994
Private Collection – London – UK