EXHIBITIONS: Individual at Company Club - Milan 1996
Toda a pintura de Celso Júnior, para além de possíveis e desinteressantes considerações morais ou estéticas, revela um extraordinário vigor: as coisas são chamadas pelos seus verdadeiros nomes, a realidade apresentada de forma a não deixar grandes dúvidas da objectividade pretendida Mas vai ainda mais longe, concebendo espaços e personagens recheados de outras verdades. Pinturas que transcendem os aspectos meramente figurativos, revestidas por vezes de uma certa aura decorativa.
Esses espaços, habitados confortavelmente pelos seus modelos, dão-nos a interpretação muito pessoal do autor, vestida de uniforme, botas e capacete, um poder com outro tipo de formalismo igualmente violento, um recurso à animalidade psíquica do homem.
Se nos trabalhos anteriores podíamos notar uma preocupação de preenchimento dos espaços das telas - como se de oratórios se tratassem, desviando assim o nosso olhar para a margem do tema principal, dando-nos a imagem de um ambiente, concedendo-nos o acesso privilegiado à interpretação da mente, as suas obras mais recentes aparecem limpas, despidas de qualquer forma de referência subjectiva, formas duras sobre cores lisas como personagens de banda desenhada. Este novo aspecto, que pode sugerir uma aproximação à arte pop, acaba por desfazer o mistério e por nos dar a verdade nua e crua: de religião.
Só nos resta o fervor; mas a direcção desse fervor pende fortemente para os prazeres da carne, ao contrário das interpretações feitas muito à posteriori das afirmações de Cristo Celso Júnior, que antes poderia parecer um artista sob o jugo da inquisição - buscando sempre pretextos de fervor católico para a sensualidade, a exibição da carne, a Adoração sempre presente - liberta-se agora. Obrigando-nos a fazer um juízo mais próximo do seu objectivo, levantando a neblina dos excessos decorativos e do cheiro a incenso. Aparecem então e simplesmente os corpos. As fardas, os odores a cabedal, suor e cavalos, o desejo e o êxtase sem qualquer desculpa moralista.
As cores, retiradas à parafernália e ao religioso kitsch de países de origem remotamente latina, mantém-se mas a forma do artista observar e retratar os seus modelos mudou radicalmente. Se antes dedicava uma especial atenção em expor o interior de cada militar, dando uma visão piegas de uma interpretação como que maternal, efectua agora uma verdadeira implosão, obrigando-nos a observar mais atentamente os sorrisos misteriosos em lábios finos, os olhares duros ou cegos de gente implacável, as pregas do tecido das fardas e o brilho dos metais
Dá agora a ideia que finalmente vestiu - porque mereceu - uma farda, ele também.
Pedro Peña
Julho 1994
MANUEL JOÃO
Oil on canvas 1994
96cm x 68cm / 37.75” x 26.75”
Exhibited at Company Club in Milan - Italy- 1996
Exhibited at 1st Lisbon Erotic Fair - Portugal 2005
Available
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